Virar o pensamento



Mudar a perspectiva, numa altura em que se pensa nas marcações dos merecidos dias de descanso. E se fossem férias todos os dias?  No sentido da liberdade de escolha de sentir, de decisões, no começar agora, com o pequeno-almoço, nas possibilidades que este dia traz. (Re) descobrir lugares, com novos olhares. Virá-los do avesso. Ir-se sempre a tempo de mudar, sem que seja preciso mudar de lugar. 

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Saudades de ser Mãe

Nesta coisa de ser mãe, há tanta diversidade de papéis e lides diárias que dificilmente alguém poderá dizer estou com tédio ou aborrecido... não tenho nada para fazer como mãe. 

Por diversos motivos. Para já porque os miúdos insistem em crescer e mudam a sua personalidade, a forma de estar e sentir. Mas ainda agora aquilo funcionava e agora... atreveu-se a responder e questionar o que era uma verdade absoluta cá em casa?!?! Como se atreve? Pois eles mudam, crescem, evoluem. 

Depois há uma infinidade de coisas para fazer (quase) diárias: por roupa a lavar, tratar de lanches e refeições, apanhar a roupa, dar um jeito à casa, ajudar a estudar e nos tpc, passar a roupa, ir às compras da semana, por novamente roupa a lavar... E são precisamente estas as coisas que consomem muito tempo. Mesmo tendo todo um esquema pré-estabelecido de comidas antecipadas ao fim-de-semana, ementas elaboradas com antecedência, uma vassoura ou aspirador e uma máquina de lavar a roupa, para quem não tem apoio extra, leia-se uma D. Zulmira que vai lá a casa dar um jeitinho, todos-os-santos-dias-há-coisas-para-fazer.

E isso é coisa para desgastar depois de um dia de trabalho e ser-se mãe é tudo isso mas é também tantas outras coisas como demorar-se num abraço sem apressar para chegar a horas à escola; ou ler 10 histórias, em vez de uma, já no aconchego da cama deles e com aquele esforço para não se deixar vencer pelo sono, antes de eles mesmos, adormecerem; ou ainda demorar-se no pequeno-almoço, como se faz ao fim-de-semana. Será que se se escrever, na caderneta dos miúdos, como justificação de faltas, por um atraso matinal - O Zé chegou tarde porque resolvemos fazer panquecas de maçã e aveia pela manhã e estavam tão boas que nos apeteceu ficar mais um pouco à conversa - a coisa fica justificada?

No período de férias há muitos momentos de loucura e de falta de oxigénio. Só que o ser humano é tão fofinho que, tal como quando se tem um filho, se esquecem as dores de parto e passados uns anitos se começa a pensar em outro porque afinal aquilo nem foi assim tão mau, pois não?, também há uma espécie de amnésia de férias em que ficam muito mais os momentos bons, do que os devaneios que, naturalmente existiram.

Saudades de ser também esta mãe, a mãe com tempo e vagares. De me demorar com eles, todos os dias. De deixar de os apressar para se vestirem, para estudarem, para se lavarem, para comerem, para se deitarem, para acordarem. Uma vacina contra as pressas, como descrito aqui. 
Apenas estarmos. 

P.S: No dia em que escrevi isto tudo, demorei-me nos abraços, nos risos e sorrisos, nas brincadeiras em cima da cama e no aconchego da noite. Enquanto a quantidade não é possível, é pensar e demorar-me na qualidade com eles. Que estes 5 minutos, me e vos confortem o coração, meus tesouros. Para voltarmos a esta nossa tenda de verão, mesmo em dias de chuva. 






Síndrome da Sanita

Batem à porta.
Ou enviam um mail.
Contam uma história. E outra. E outra ainda. E mais uma. E agora com mais raiva.
Outra mensagem. 
Batem agora na janela.
Novo mail.
Ou uma carta ou ainda em forma de postal, para disfarçar.
Batem novamente à porta. Entram. Sentam-se mesmo ali ao lado. 
Às vezes não batem à porta. Entram de rompante. Uma vezes com, outras sem aviso. Sem licença, sem jeitinho. 

Sai um enchorrilhado de palavras, algumas muito feias. Algumas azedas, outras podres. Algumas incompreendidas num discurso dialogado, que disfarça um monólogo que apenas se quer ouvir a si próprio e ter razão. Apenas ter razão e despejar as ideias, as incompreensões, onde na verdade há pouco espaço e manobra para ouvir. Deitar fora naquela sanita humana que ali se prontificou e teve a ousadia de não dar a resposta correta, a esperada e que nunca é perfeita para quem se está a ouvir e a despejar. 

O síndrome da sanita para despejar numa pessoa-casa-de-banho perto de si. 

P.S.: Nestas alturas volta-se a esta velha máxima, profunda, da filosofia-de-bolso.